Por Miguel Arcanjo Prado
O tema do abuso sexual é espinhento. Sobretudo quando a vítima é criança. Muita gente nem prefere falar. Fingir que não existe. Melhor deixar escondido debaixo do tapete da hipocrisia familiar e social.
Por isso, o espetáculo brasiliense Eros Impuro é corajoso ao tocar na questão por uma nuance nada óbvia ou vulgar. Faz isso por meio da arte como registro de um tormento no passado que nunca se calou.
Sérgio Maggio assina direção e dramaturgia. No palco do monólogo, está o ator Jones de Abreu, que faz um atormentado artista que resolve revelar seus traumas em telas pungentes.
Em um desabafo a um interlocutor imaginário, rememora fatos de sua vida enquanto descortina o que fere sua alma.
A sexualidade surge em conflito nos quadros que Abreu – que também é artista plástico – pinta ao vivo, no palco. Torsos masculinos bem torneados evidenciam uma libido sempre em riste, mas encoberta, maculada.
Abreu mostra vigor ao unir o artista plástico ao ator, chama para si o olhar da plateia, que presta atenção em tudo o que ele diz, ávida por novidades de alcova.
A peça é representa também a chegada da Criaturas Alaranjadas Cia. de Teatro aos palcos paulistanos. Cuidam, diariamente, para que a cidade não os engula.
Maggio e Abreu cumprem temporada na metrópole, inaugurando a programação do novo Teatro Pequeno Ato, vizinho ao histórico Teatro de Arena. São beneficiados do Prêmio Myriam Muniz da Funarte de circulação nacional.
Militante de um mundo onde sexo seja belo e não sanha animalesca geradora de traumas, Eros Impuro é um grito de arte que responde ao ato ignóbil do abuso sexual que marca para todo o sempre. E o grito é bem alto, para ninguém fingir que não ouviu.
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