Enquanto o espectador desce a escada que dá acesso ao subsolo do Teatro Pequeno Ato, o ator Jones de Abreu inicia a apresentação do monólogo dramático. Como se recepcionasse um convidado, ele sutilmente fixa o olhar em alguém do público e o convida a ocupar o “melhor lugar”. O protagonista da peça escrita e dirigida por Sérgio Maggio é um artista plástico em preparação para mais um quadro. Aos domingos, ele costuma receber rapazes, muitos deles michês, para retratá-los em suas telas. O rosto nem sempre aparece nítido. Para o desenho do corpo, no entanto, uma maior atenção é dispensada. Jones de Abreu manuseia as tintas e começa a esboçar a imagem. Também artista plástico, o ator trava esse diálogo de linguagem e, ao mesmo tempo em que orienta seu modelo fictício, traz à tona fragmentos de sua vida para transformar dramaturgia.
Jones de Abreu empresta ao personagem uma i ntensidade que valoriza o texto e proporciona diferentes leituras. A força de seu olhar leva o público a duvidar das intenções do personagem e, na segunda parte do espetáculo, oferece possibilidades que tanto podem emocionar como dar repulsa. A surpreendente delicadeza com que o tema do abuso infantil é levado à cena minimiza o peso, mas jamais esvazia a mensagem final. Para isso, mostra-se fundamental, além da interpretação de Abreu, a dramaturgia repleta de sutilezas e absolutamente imparcial. Em nenhum momento, a direção propõe um julgamento sobre os atos do protagonista. Pelo contrário. Coloca no palco uma história verossímil e passível de levantar debates sobre a violência (60min). 18 anos. Estreou em 9/10/2013. Até 10 de novembro.
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