JONES ABREU SCHNEIDER

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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Crítica de EROS IMPURO por Miguel Arcanjo Prado do R7

Por Miguel Arcanjo Prado
O tema do abuso sexual é espinhento. Sobretudo quando a vítima é criança. Muita gente nem prefere falar. Fingir que não existe. Melhor deixar escondido debaixo do tapete da hipocrisia familiar e social.
Por isso, o espetáculo brasiliense Eros Impuro é corajoso ao tocar na questão por uma nuance nada óbvia ou vulgar. Faz isso por meio da arte como registro de um tormento no passado que nunca se calou.
Sérgio Maggio assina direção e dramaturgia. No palco do monólogo, está o ator Jones de Abreu, que faz um atormentado artista que resolve revelar seus traumas em telas pungentes.
Em um desabafo a um interlocutor imaginário, rememora fatos de sua vida enquanto descortina o que fere sua alma.
A sexualidade surge em conflito nos quadros que Abreu – que também é artista plástico – pinta ao vivo, no palco. Torsos masculinos bem torneados evidenciam uma libido sempre em riste, mas encoberta, maculada.
eros impuro foto sergio martins 300x200 Crítica: Eros Impuro é grito que abuso não sufoca
Jones de Abreu mostra vigor ao unir ator e artista plástico em cena - Foto: Sergio Martins
Abreu mostra vigor ao unir o artista plástico ao ator, chama para si o olhar da plateia, que presta atenção em tudo o que ele diz, ávida por novidades de alcova.
A peça é representa também a chegada da Criaturas Alaranjadas  Cia. de Teatro aos palcos paulistanos. Cuidam, diariamente, para que a cidade não os engula.
Maggio e Abreu cumprem temporada na metrópole, inaugurando a programação do novo Teatro Pequeno Ato, vizinho ao histórico Teatro de Arena. São beneficiados do Prêmio Myriam Muniz da Funarte de circulação nacional.
Militante de um mundo onde sexo seja belo e não sanha animalesca geradora de traumas, Eros Impuro é um grito de arte que responde ao ato ignóbil do abuso sexual que marca para todo o sempre. E o grito é bem alto, para ninguém fingir que não ouviu.

Crítica de Dirceu Alves Jr. da Veja SP para o espetáculo EROS IMPURO

Enquanto o espectador desce a escada que dá acesso ao subsolo do Teatro Pequeno Ato, o ator Jones de Abreu inicia a apresentação do monólogo dramático. Como se recepcionasse um convidado, ele sutilmente fixa o olhar em alguém do público e o convida a ocupar o “melhor lugar”. O protagonista da peça escrita e dirigida por Sérgio Maggio é um artista plástico em preparação para mais um quadro. Aos domingos, ele costuma receber rapazes, muitos deles michês, para retratá-los em suas telas. O rosto nem sempre aparece nítido. Para o desenho do corpo, no entanto, uma maior atenção é dispensada. Jones de Abreu manuseia as tintas e começa a esboçar a imagem. Também artista plástico, o ator trava esse diálogo de linguagem e, ao mesmo tempo em que orienta seu modelo fictício, traz à tona fragmentos de sua vida para transformar dramaturgia.
Jones de Abreu empresta ao personagem uma i ntensidade que valoriza o texto e proporciona diferentes leituras. A força de seu olhar leva o público a duvidar das intenções do personagem e, na segunda parte do espetáculo, oferece possibilidades que tanto podem emocionar como dar repulsa. A surpreendente delicadeza com que o tema do abuso infantil é levado à cena minimiza o peso, mas jamais esvazia a mensagem final. Para isso, mostra-se fundamental, além da interpretação de Abreu, a dramaturgia repleta de sutilezas e absolutamente imparcial. Em nenhum momento, a direção propõe um julgamento sobre os atos do protagonista. Pelo contrário. Coloca no palco uma história verossímil e passível de levantar debates sobre a violência (60min). 18 anos. Estreou em 9/10/2013. Até 10 de novembro.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013