Diego Ponce de Leon
Especial para o Correio
À primeira vista, o casamento entre Luiz
Gonzaga e Nelson Rodrigues pode soar fadado ao divórcio. Mas, um olhar mais
apurado revela algumas afinidades. Exatos cem anos atrás, os dois nasciam no
mesmo estado: Pernambuco. Embora poucos saibam, o fluminense (de alma e
torcida) Nelson nasceu em Recife. Os centenários (ambos completados em agosto)
são o ponto de partida da segunda Terça Crônica, que ocorre hoje, no Café com
Letras (203 Sul), em homenagem aos dois mestres da cultura brasileira.
Como sempre, leituras cênicas irão
interagir com canções. Entre uma crônica e uma música, algumas intervenções
provocam um descontraído papo com os artistas e Rosualdo Rodrigues, jornalista
convidado. “A importância do Nelson para o teatro e o estilo crônico das letras
de Gonzaga são alguns dos tópicos dessas conversas, sempre produtivas”, revelou
Jones de Abreu, ator e idealizador do projeto. Jones, que fará a leitura
dramática do universo rodriguiano, prepara um repertório especial para a noite
e antecipa que “os textos de A vida como ela é e as crônicas publicadas em
jornal, são as principais fontes”. O ator está bem familiarizado com a obra do
anjo pornográfico. Dois anos atrás encarnou o próprio, na montagem sobre o
cronista e dramaturgo no projeto Mitos do Teatro Brasileiro, no CCBB. Ainda
assim, o público que comparecer poderá testemunhar a primeira vez que o ator
encara um texto escrito por Nelson. “Sempre me preparo. Podem esperar um Jones
bem alerta”, avisou.
A vida de viajante do rei do baião
inspirou o músico Alex de Souza. A saída da terra natal e a chegada ao Rio de
Janeiro, como representante autêntico da cultura nordestina, é a imagem que
ajudou o violonista a selecionar as canções para a apresentação de logo mais. Alex
faz questão de destacar o ritmo literário das composições de Gonzagão: “Ele era
um cronista popular. Sempre retratando o cotidiano da época”, disse.
O músico participa desse consolidado
projeto de Brasília, que promove o encontro informal e interativo entre música
e literatura, desde a concepção, em 2008, quando Jones de Abreu o criou. Os
encontros quinzenais do Terça Crônica, seguem até dezembro, sempre com
diferentes cronistas e músicos homenageados. Nesta terça, Asa Branca pousa no
asfalto de Nelson e Dorotéia vai visitar a Juazeiro de Luiz Gonzaga.
Terça Crônica
Hoje, a partir de 20h
No Café com Letras (203 Sul)
Entrada franca.
Classificação indicativa livre.