JONES ABREU SCHNEIDER

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terça-feira, 7 de agosto de 2012

Uma dose violenta de qualquer coisa

Jones de Abreu e Maria Manoella

Pedro se sente mal e não sabe muito bem a razão. Experimenta longas fases de letargia e tédio. Certo dia, é demitido do emprego de jornalista e foge. Mas para onde? Pedro é um personagem fictício, protagonista de um longa-metragem brasiliense ainda em produção. “Tenho pânico de me repetir. No fundo, todo ser humano deseja o inesperado. É atávico”, declara o ator Vinícius Ferreira, que interpreta o personagem Pedro,  em Uma dose violenta de qualquer coisa: “Decidi viajar de Manaus para Brasília de carona. Não é fácil se ver sozinho, sem ter a quem recorrer. Eu tive nove dias para entender o ritmo da estrada e a possibilidade de me sentir muito só. Essas sensações estão sendo colocadas na minha interpretação”, destaca Vinícius, o ator, mas bem poderia ser a voz de Pedro ouvida à distância. 
O personagem inicia a jornada dentro da redação de um jornal brasiliense, as filmagens foram feitas de madrugada na redação do Correio Braziliense. No set montado em meados de julho, a equipe formada pelo diretor do filme, Gustavo Galvão, o diretor de fotografia, André Carvalheira, e os atores Jones de Abreu, Maria Manoella e Vinícius Ferreira simulavam a demissão decisiva do funcionário que um dia, no passado, havia sido exemplar. Na pele de Beatriz, a atriz Maria Manoella enfrentava as baforadas de cigarro de um editor-chefe desumano (Abreu) e tentava entender as razões para a fuga do irmão, Pedro. “Enquanto ele larga as origens e parte em busca de um sentido para a vida, ela está tentando se reencontrar com o irmão com quem teve pouco contato”, descreve a atriz carioca.
Paisagem rec ortada
Sem seguir a cronologia da história, a equipe havia acabado de retornar de Ouro Preto (MG), onde o protagonista foi parar meio sem saber porquê. Da paisagem recortada do interior de Minas Gerais e da arquitetura colonial do sítio histórico descortina-se oposição. “Ele deixa a arquitetura modernista de Brasília para encontrar o barroco mineiro. A linha reta pela tortuosa. Muda de caminho, muda de direção”, resume o diretor. Nesta errância, o protagonista vai esbarrando com outros seres fictícios interpretados pelos atores Marat Descartes e Catarina Accioly, entre outros. E não exatamente capta a essência de todos eles. “Tentamos construir um roadmovie sem os clichês do gênero. Nesse tipo de filme, a visão dos protagonistas vai sendo modificada pelos personagens com quem eles esbarram. O Pedro não vai ser necessariamente transformado no trajeto”, explica o cineasta Gustavo Galvão, dono dos rumos da produção na direção e na guia do rote iro. Galvão recebeu “pitacos” de Ferreira desde o início do projeto. Os dois trabalham juntos há algum tempo desde as filmagens do curta-metragem Danae (2004), Uma noite com ela (2005) e no primeiro longa de Galvão, em estágio de finalização, Nove crônicas para um coração aos berros. 
Ambos retiraram das próprias crises dos 30 e poucos anos o recheio geracional necessário para o projeto. “Eu submeti o roteiro à avaliação de uma psicanalista. Ela me disse que o que Pedro sente é chamado The quarter-life crisis, em inglês (a crise de um quarto de vida em analogia à crise de meia idade), inquietação muito comum em pessoas dessa geração”, explicou Galvão. O termo designa pessoas adultas, às vezes bem sucedidas profissionalmente, que experimentam angústias próprias de adolescentes. Um certo atraso psicológico causado pela vida moderna. Em um período bem menor, no arco de quatro dias de vida, será possível que Pedro se sinta melhor, adequ ado aos anseios que o cercam ou continuará se sentido enterrado ainda vivo?

Yale Gontijo/ Correio Braziliense 

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