O CCBB Brasília e Mitos do Teatro Brasileiro - ano II - CELEBRAM A VIDA E A OBRA DE PAULO AUTRAN, ACLAMADO PATRONO DO TEATRO BRASILEIRO
O Brasil já estava amordaçado pela ditadura militar quando Paulo Autran foi para o centro do palco, sob o foco de luz, clamar: “Sou apenas um homem de teatro. Sempre fui e sempre serei um homem de teatro.” De cara limpa, anunciava ao mundo, que estava ali para lutar, por meio do seu ofício, pela restituição de um país democrático. Em Liberdade, liberdade, de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, o ator, maduro em sua consciência política, mostrava uma das facetas daquele que se doou plenamente ao palco, construindo um teatro preocupado em refletir as agruras e as agonias do homem contemporâneo. O projeto Mitos do Teatro Brasileiro celebra a trajetória de “o senhor dos palcos”, dia 21 de setembro, às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil, com entrada franca (as senhas para o encontro devem ser retiradas uma hora antes do evento).
“Poder interpretar num mesmo espetáculo, farsa, drama, comédia, tragédia, textos íntimos, épicos, românticos, é tarefa com que sonha qualquer ator, principalmente quando os atores se chamam Shakespeare, Beaumarchais, Büchner, Brecth, Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, Manuel Bandeira, Sócrates”, anunciou Paulo Autran. Homem de todos os teatros, que construiu uma carreira de repertório espetacular, trocou a promissora carreira de advogado pelo exercício de interpretar tantos sonhos. Da estreia profissional ao lado de Tônia Carreiro em Um deus dormiu lá em casa (1949) a O avarento (2006), construiu uma trajetória de coerência artística e ética, sendo reconhecido, ainda em vida, como um dos maiores símbolos do teatro brasileiro. Em junho de 2011, Paulo Autran foi declarado Patrono do Teatro Brasileiro. O título, aprovado pelo Congresso Nacional, foi oficializado em lei assinada pela presidenta Dilma Rousseff.
Para celebrar a arte ímpar de Paulo Autran, os atores J. Abreu e Silvana de Faveri interpretam cenas inéditas, criadas pelo dramaturgo e diretor Sérgio Maggio, enquanto a atriz Karin Rodrigues e o ator e diretor Elias Andreato testemunham fatos relevantes vividos ao lado do senhor dos palcos. “Fico emocionada em ir a Brasília para falar de Paulo Autran”, diz a atriz e companheira Karin Rodrigues, que encenou grandes sucessos de Autran, como Pato com laranja e Vestir o pai. “É uma grande reverência em minha trajetória”, completa Elias Andreato, que dirigiu Autran, em 2000, na montagem Visitando o Sr. Green, espetáculo que marcou os 50 anos de carreira do ator
Após celebrar, com êxito de público e crítica, as trajetórias de Dulcina de Moraes, Dercy Gonçalves, Procópio Ferreira, Nelson Rodrigues, Cacilda Becker, Chico Anysio, Maria Clara Machado, Plínio Marcos e Lélia Abramo, Mitos do Teatro Brasileiro segue saudando a memória de Augusto Boal (18 de outubro, com Amir Haddad e Aderbal Freire-Filho) e Dina Sfat (22 de novembro, com Juca de Oliveira e Thelma
Reston). “É uma segunda geração do século 20, que vai permitir apontar as grandes transformações do teatro brasileiro a partir dos anos 1960”, observa Maggio.
Num formato de teatro-documentário, no qual se constrói ao vivo a biografia cênica do homenageado, a partir da junção de esquetes, depoimentos e vídeos, o projeto Mitos do Teatro Brasileiro contribui para consolidar a memória das artes cênicas. “É uma aula-espetáculo, na qual aprendemos juntos, artistas e plateia, a entender a construção desse teatro”, observa o ator J. Abreu.